História do Azulejo em Portugal
Definição: Placa cerâmica de pouca espessura, geralmente quadrada em que a face principal é vidrada, monocromática ou policromática, lisa ou em relevo, enquanto a face posterior (tardoz) se destina a ser fixada na superfície a que se destina.
O azulejo na sua origem, não tinha como objectivo existir por si próprio, como uma obra de arte isolada. Tinha como função ser um elemento decorativo que estava sempre relacionado com arquitectura, fosse ela de carácter civil ou religioso, e as suas aplicações eram bastante variadas: paredes, tectos, pavimentos, revestimento interior e exterior (onde está mais sujeito ao desgaste do tempo e às variações do tempo).
A fabricação do azulejo desenvolveu-se essencialmente em Espanha, Itália, França, Inglaterra e Portugal (respectivas colónias), devido: ao aperfeiçoamento das técnicas de fabrico e de pintura; utilização da policromia; e, inovação temática, que passou a incluir a figura humana e aspectos da natureza (os muçulmanos estavam proibidos de tratar estes ‘temas’ por preceitos religiosos). É de salientar que foi em Portugal que a utilização e o desenvolvimento do azulejo na arquitectura foi o mais abundante, criativo, variado e iconograficamente mais rico.
Por volta do século XIV, os artífices de formação mourisca introduziram na Península Ibérica as técnicas aprendidas no Médio Oriente. A introdução do azulejo e da “louça” em Portugal está relacionada com a importação de produtos da região do Levante Espanhol e da Andaluzia. Os primeiros contactos com os revestimentos cerâmicos terão ocorrido em finais do século XIII pelo uso do mosaico vidrado em pavimentos com decoração geométrica de cores lisas (Mosteiro de Alcobaça e Castelo de Leiria). Como até ao século XV, os principais centro produtores eram Sevilha, Málaga, Valência e Toledo, a decoração predominante era baseada em motivos mouriscos com entrelaçados e formas geométricas que se remetem em esquemas radiais que formam padrões. Na segunda metade do século XV os pavimentos começaram a ser revestidos com alfardons e losetas, ou com rajolas decoradas com engobes e importadas de Manises (Convento de Jesus em Setúbal e o Palácio dos Duques de Beja, conhecido por Palácio dos Infantes).
Em Coimbra existem grandes núcleos azulejares do século XVI, devido à acção do bispo-conde D. Jorge de Almeida, um do grande encomendador português de azulejos hispano mouriscos produzidos em Sevilha. Em 1503, fez o revestimento integral da catedral de Coimbra (paredes e colunas) simulando a presença de tecidos e vãos arquitectónicos.
Sé Velha de Coimbra –Primitiva
decoração das colunas das naves
Volvidos cinco anos, chegou a Lisboa, uma encomenda de azulejos hispano mouriscos (Sevilha) para decorar o Palácio de Sintra (mais de 10 000 azulejos com grande variedade de padrões e técnicas: corda seca, aresta, esgrafitado e de relevo). Esta encomenda é resultado de uma visita de D. Manuel I a Sevilha.
Palácio de Sintra -Sala de D.
Sebastião
Pode-se afirmar que desde os finais do século XV e durante a 1ª metade do século XVI, o azulejo sevilhano passou a ser utilizado em Portugal de forma abundante. Estes azulejos reflectiam o «mudejarismo» andaluz tanto nas técnicas de produção, como nos motivos decorativos apesar de não se aplicar da mesma maneira que em Andaluzia. A partir do século XVI, começou a ser evidente uma maior liberdade decorativa, são introduzidas composições vegetalistas e geométricas.
Pode-se afirmar que desde os finais do século XV e durante a 1ª metade do século XVI, o azulejo sevilhano passou a ser utilizado em Portugal de forma abundante. Estes azulejos reflectiam o «mudejarismo» andaluz tanto nas técnicas de produção, como nos motivos decorativos apesar de não se aplicar da mesma maneira que em Andaluzia. A partir do século XVI, começou a ser evidente uma maior liberdade decorativa, são introduzidas composições vegetalistas e geométricas.
A primeira metade do século XVI, caracteriza-se pelo gosto pela decoração ornamental muçulmana, por superfícies cobertas de azulejo e início da produção azulejar em Portugal, contudo, foram mantidas as formas tradicionais de fabrico e de decoração muçulmanas. Na segunda metade, chegaram a Portugal azulejos vindos das oficinas flamengas de Talavera de la Reina e de Sevilha realizados segundo a técnica da majólica (influência da cerâmica italiana via Flandres). Por influência desses centros os ceramistas portugueses aprenderam os segredos da faiança alterando as técnicas de fabrico e a gramática decorativa tradicionais. Em meados do séc. XVI, a herança mourisca (azulejos mudéjares), é substituída pelos azulejos lisos, com decoração pintada sobre o vidrado, em técnica de majólica o que aumenta as possibilidades compositivas. Grande importação de azulejos vindos da Flandres, onde abundavam as representações figurativas.
A importação de azulejos de Antuérpia, em 1558, destinados ao Palácio Ducal de Vila Viçosa também foram um factor importante para a transformação do gosto em Portugal, e para o abandono dos azulejos mudéjares. Em finais do séc. XVI - inícios dos séculos XVII surgiram as composições portuguesas de enxaquetados. As novas tendências conduziram a composições mais eruditas; início da padronagem e de azulejos de “tapete”; introdução de motivos ornamentais exuberantes e cheios de fantasia inspirados nos tecidos indianos; composições figurativas por influência das gravuras que circulavam em Portugal (temática profana diversificada); e, painéis com temática religiosa (reflexo do Concílio de Trento).
Devido à conjuntura económica e política em Portugal (domínio filipino), a produção do azulejo vai sofrer algumas alterações, no último quartel do século XVI: diminuição das importações; isolamento dos ceramistas portugueses; desenvolvimento da produção oficinal; e, introdução de aspectos criativos e originais pelos ceramistas portugueses. Entre os primeiros painéis figurativos de produção portuguesa (2ª metade do séc. XVI), contam-se os que foram realizados para a Quinta da Bacalhoa e para a Quinta das Torres (Azeitão).
Quinta da Bacalhoa -decoração
envolvente do muro da Casa do Tanque
O século XVII é marcado pela: conservação das fórmulas e processos decorativos; restrição de soluções inovadoras; e, aparente fecho em torno de modelos que pareciam estar já ultrapassados na época. Porém, a criatividade e a inflação decorativa, sobretudo nos edifícios religiosos não se ressentiu demasiado. Fixado em Portugal o gosto por revestimentos cerâmicos monumentais em igrejas e palácios, era dispendiosa a encomenda de grandes composições únicas, adequadas a cada espaço. Optou-se por isso, azulejos de repetição. A tipologia mais característica do século XVII é a padronagem: os azulejos de «tapete» são as composições que dominam este século.
Os primeiros azulejos de padrão de fabrico português reflectiam a decoração maneirista de influência itálica e flamenga nos modelos mais utilizados: ponta de diamante; azulejos de Tapete: Parras; azulejos de Tapete: Motivos geométricos (Italo-flamengos); e, azulejos de Tapete: módulos diversificados. Em meados do século surgiram os padrões florais mais raros, os com policromia total de azul, amarelo, manganês e verde, sobre branco. As últimas décadas foram marcadas pela utilização exclusiva do azul sobre branco, anunciando o gosto dominante do primeiro quartel do séc. XVIII.
Igreja de Marvila, Santarém
A partir do último quartel do século XVII e durante quase cinquenta anos, importaram-se dos Países Baixos conjuntos monumentais de azulejos. Para além dos grandes painéis figurativos, chegaram-nos também dos Países Baixos azulejos comuns, chamados de figura avulsa. Cada azulejo representava uma cena autónoma de produção intimista própria ao gosto holandês. Porém, no nosso país foram utilizados/aplicados de acordo com a nossa tradição.
As encomendas azulejares provenientes dos Países Baixos, estimularam a criatividade dos nossos artífices. Surgiram novas soluções: azulejos de figura avulsa e albarradas (vasos floridos). As composições figurativas tiveram um grande impulso. A produção azulejar portuguesa no século XVIII, divide-se em quatro períodos: Ciclo dos Mestres (1º quartel do séc. XVIII), grande Produção Joanina (2.º Quartel do séc. XVIII), rocócó (3.º e 4.º Quartel do século XVII) e, neoclassicismo (4º quartel séc. XVIII, início séc. XIX).
No início de setecentos, o pintor de azulejo volta a assumir o estatuto de artista assinando, com frequência, os seus painéis e o precursor desta situação foi o espanhol Gabriel del Barco, activo em Portugal desde os finais do século XVII. Este introduziu um gosto por envolvimento decorativo mais exuberante, e uma pintura liberta do contorno rigoroso do desenho. Estas inovações abriram caminho a outros artistas, dando início ao Ciclo dos Mestres – período áureo da azulejaria portuguesa. Este período, entre outros aspectos, caracterizou-se pelo: definitivo abandono da padronagem e início dos grandes programas decorativos (ciclos narrativos).
Azulejos
da sala da Irmandade das Mercês -António de Oliveira Bernardes (1714) -Lisboa
A grande produção joanina foi marcada pelo aumento sem precedentes do fabrico de azulejos (em parte devido a grandes encomendas vindas do Brasil), uso dos maiores ciclos de painéis historiados jamais executados em Portugal e repetição das figurações (devido ao aumento da produção). A par dos temas religiosos encomendados pela Igreja, passou-se a utilizar nos palácios mais cenas bucólicas, mitológicas, de caça e guerreiras, ou relacionadas com um dia a dia cortesão, bem patente nas chamadas figuras de convite colocadas nas entradas.
Painel
figurativo joanino: Cena de caça (c. 1730-1735) – Valentim de Almeida (atr.) Mosteiro
de São Vicente de Fora
Em meados do século XVIII, ocorreram mudanças no gosto da sociedade portuguesa com a adopção de uma gramática decorativa influenciada pelo estilo Regência francês, mas sobretudo pelo Rocócó. Os painéis figurativos da época mostram, maioritariamente, cenas galantes e bucólicas, vindas de gravuras de Watteau.
Cena galante (1750-1755)
– reprodução de gravura de Antoine Watteau
Banco de jardim, quinta dos
Azulejos (Lisboa)
O Terramoto que destruiu Lisboa em 1755 obrigou à reconstrução da cidade sendo que para esse efeito foi recuperada a padronagem como meio de animar arquitectura que, pela urgência da reedificação, se tornou muito depurada e funcional. Este tipo de azulejo, ficou conhecido com azulejo pombalino. A pintura do neoclassicismo surgiu em finais do século XVIII, prolongando-se até meados do século XIX. Reagiu contra o Barroco e os excessos do Rococó, redescobrindo o classicismo como fonte de inspiração. Este período azulejar foi marcado pelos seguintes aspectos: ornatos leves, sem expressão de volume (motivos florais, medalhões, laçarias), cerâmica de revestimento pré-industrial e, aperfeiçoamento técnico (material mais resistente com o máximo rendimento da matéria-prima).
Painel
Neoclássico
A partir da segunda metade do século XIX, o azulejo em padrão passou a cobrir milhares de fachadas, por ser o mais barato. A utilização de técnicas semi-industriais ou industriais permitia uma aplicação mais rápida e um rigor de produção. Surgiram várias fábricas que produziam uma enorme quantidade de azulejos padrão. De destacar as fábricas do Porto e Gaia, Massarelos, Carvalhinho e Devesas, pois estas produziam azulejos de padrão com relevo moldado e com cores contrastadas, num ecletismo romântico.
O Modernismo no Azulejo enunciou-se com os padrões do arquitecto Raul Lino, desenhados entre 1907 e 1915, numa linguagem rigorosa de abstracção geométrica, por vezes com origem em formas naturais mas recusando qualquer mimetismo naturalista, atitude máxima do decorativismo alemão. Este movimento afirmou-se a partir de 1933, com a Política de Espírito do Estado Novo, que recuperou o azulejo como elemento de identificação cultural. Um espírito moderno, associado a uma arquitectura funcionalista internacional, surgiu cerca de 1950, sendo Maria Keil , autora, entre 1959 e 1972, dos revestimentos das primeiras estações do Metropolitano de Lisboa.
No mesmo período afirmou-se uma geração de ceramistas modernos como Manuel Cargaleiro, Cecília de Sousa, activos em Lisboa, e Júlio Resende no Porto. Por volta de 1980, deu-se no nosso país uma expansão de diversidade, em parte, devido a encomendas do Metropolitano de Lisboa.
O Modernismo no Azulejo enunciou-se com os padrões do arquitecto Raul Lino, desenhados entre 1907 e 1915, numa linguagem rigorosa de abstracção geométrica, por vezes com origem em formas naturais mas recusando qualquer mimetismo naturalista, atitude máxima do decorativismo alemão. Este movimento afirmou-se a partir de 1933, com a Política de Espírito do Estado Novo, que recuperou o azulejo como elemento de identificação cultural. Um espírito moderno, associado a uma arquitectura funcionalista internacional, surgiu cerca de 1950, sendo Maria Keil , autora, entre 1959 e 1972, dos revestimentos das primeiras estações do Metropolitano de Lisboa.
No mesmo período afirmou-se uma geração de ceramistas modernos como Manuel Cargaleiro, Cecília de Sousa, activos em Lisboa, e Júlio Resende no Porto. Por volta de 1980, deu-se no nosso país uma expansão de diversidade, em parte, devido a encomendas do Metropolitano de Lisboa.
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