Origem
e Tradições
A palavra azulejo tem origem árabe, mas a sua etimologia é um pouco controversa. Poderá derivar dos seguintes termos árabes:
- ZULÉIJA - AZZELIJ
- AL ZULEYCHA - AL ZULÉIJA
- AZ-ZULEIJ - AL ZULAIJU
- AL ZULACO
Com o significado de «ladrilho» ou «pequena pedra polida».
Definição: Placa cerâmica de pouca espessura, geralmente quadrada em que a face principal é vidrada, monocromática ou policromática, lisa ou em relevo, enquanto a face
posterior (tardoz) se destina a ser fixada na superfície a que se destina.
Fig - Exemplar de um Tardoz
Tardoz: é a face posterior, ou seja lado do azulejo oposto ao vidrado que se aplica diretamente no suporte de destino.
O
AZULEJO: noções elementares
Chacota (ou Biscoito): Placa de barro cozido sobre a qual é aplicado o vidrado (peça de azulejo que ainda só foi cozida uma vez, ou seja, antes de ser vidrada)
Engobe (ou Engobo): Substância de argila fina e pastosa que se utiliza para cobrir as peças cerâmicas em chacota e ainda não vitrificadas (como se se tratasse de um banho), ou para servir como elemento decorativo.
Fig.- Azulejo medieval de engobe amarelo sobre barro vermelho
decorado com uma flor-de-lis e dois cravos (França séc. XIV-XV)
O Vidrado: Designação dada a uma substância composta por: sílica, boro e chumbo (silicato bórico de chumbo) e outros fundentes básicos (potassa, soda, cal, alumínio…triturados em conjunto). O vidrado serve para revestir as peças em chacota com uma camada vítrea (transparente ou opaca), sobre a qual se colocam os pigmentos da pintura. Também se pode designar por:
•Verniz; cobertura ou
•Esmalte (opaco ou transparente).
Pode ter várias tonalidades conforme os óxidos metálicos utilizados – pigmentos.
Fig.- Face anterior de um azulejo em chacota (não vidrado/esmaltado)
O vidrado de estanho branco opaco, aplicado sobre a chacota, constitui a base da decoração pintada. O vidrado de estanho é essencialmente um vidrado de chumbo (transparente) que se torna branco pela adição de óxido de estanho.
Depois de seca, a aplicação do vidrado deixa na superfície do azulejo uma camada uniforme de vidrado em pó que recebe os pigmentos. Depois de seca volta a receber nova cozedura. Caso a peça seja pintada antes da aplicação do vidrado, este pode ocultar parcialmente as cores mais suaves.
Os Pigmentos: As cores aplicadas na decoração têm origem em óxidos metálicos:
•Azul –Cobalto
•Verde –Cobre
•Vermelho e castanho –Ferro
•Amarelo /laranja –Ferro
•Castanho/preto –Manganês
Os pigmentos eram moídos até ficarem em pó e depois diluídos em água e aplicados sob forma líquida.
Majólica
Italiana
Podem considerar-se dois tipos de Majólica:
•Esmaltada– Nesta técnica a chacota era revestida com o vidrado estanhífero ficando assim a superfície preparada para receber a pintura.
•Envernizada– A pintura era feita diretamente sobre a chacota e envernizada posteriormente.
Cada uma delas implicava uma grande experiência por parte do decorador e um traço firme e seguro na aplicação das cores e dos vários matizados. Depois do barro devidamente purificado, e amassado para retirar qualquer bolha de ar existente, o barro é estendido até se obter a espessura do azulejo. Com a ajuda de um molde metálico são recortados os azulejos de acordo com as dimensões desejadas. Os azulejos são depois deixados a secar lentamente e de modo uniforme para evitar a sua deformação. Quando atingirem a «dureza do couro» são retificados com uma faca e, depois de totalmente secos são levados a cozer. Os azulejos em chacota recebem depois o vidrado e a aplicação das cores, sendo submetidos posteriormente à cozedura final.
Fig.-Exemplos de Majólica Italiana
Como
se efetua a decoração da superfície:
Fig.-Desenhando
o modelo sobre papel transparente
Fig.-Picotagem
do papel
Fig.-Tudo preparado para estresir.
Fig.-Estresir - Passando o desenho do papel para a superfície do
azulejo.
Fig.-Transposição
do desenho por meio de pressão
Fig.-Aspeto final da transposição do desenho.
Tipos de Decoração:
DECORAÇÃO GEOMÉTRICA
•Azulejo de padrão
•Enxaquetados
DECORAÇÃO FIGURATIVA
•Azulejos de figura avulsa
•Cenas galantes, episódios de cavalaria, cenas de género
•Temas históricos, religiosos, mitológicos, alegoricos
•Figuras de convite
•Paisagem, elementos da fauna e da flora (albarradas)
•Outros … … …
Técnicas de fabrico e pintura
Técnica do Alicatado:
•Alicatado = Composição decorativa constituída pela combinação de secções recortadas de azulejos de diferentes cores lisas, com múltiplas formas geométricas justapostas, formando figuras geométricas segundo esquemas preestabelecidos.
•Alicer (ou tacelo) = Peça cerâmica de pequenas dimensões usadas na composição de mosaicos.
Os alicatados são característicos da arte azulejar de Granada, muito utilizados também em Sevilha, entre os séculos XIII e XV. Entre os alicatados destacam-se dois tipos:
-Os que formam composições estreladas
-Os que resultam de «Laçarias» (faixas estreitas, quebradas ou curvas, que se entrecruzam percorrendo toda a composição.
Fig.-Composição segundo a técnica do Alicatado (Palácio Nac. de Sintra)
Fig.- Composição segundo a técnica do alicatado (laçaria)
Azulejos
hispano-mouriscos (ou
hispano-árabe ou Mudéjar)~
A sua origem é espanhola e vieram substituir os «alicatados» em meados do séc. XV/XVI. Azulejo Hispano-Mourisco (ou Hispano-árabe ou Mudéjar) é a designação dada geralmente ao azulejo cuja produção é efetuada em Sevilha e Toledo, nos séculos XV e XVI, segundo duas técnicas:
-Azulejos de «corda seca»
-Azulejos de «aresta» (ou cuenca)
Assim, a designação «azulejo de corda seca» ou «azulejo de aresta» deveria ser substituída por «azulejo hispano-mourisco de corda seca» e «azulejo hispano-mourisco de aresta». Surgiram inicialmente concretizados segundo a técnica de "corda seca", que consistia em gravar previamente o desenho desejado sobre uma placa de barro cru. Esta técnica, posteriormente sofre uma evolução com o intuito de rentabilizar a produção, passando a utilizar-se moldes com relevo, que após compressão do barro cru sobre o mesmo, este ficava com o desenho impresso. Após uma primeira cozedura, eram preenchidos com óxido de manganês e gordura, para evitar a mistura de cores durante a última cozedura.
A técnica de «corda seca» é uma técnica de decoração hispano-mourisca, de finais do século XV e princípios do séc. XVI, que consiste em desenhar o contorno dos motivos decorativos por meio de sulcos sendo estes preenchidos com a mistura de uma substância gorda (geralmente óleo de linhaça e manganês) evitando, assim, que as cores se misturassem durante a cozedura. Os motivos iniciais utilizados por esta técnica eram sobretudo de carácter geométrico.
Fig.- Azulejo hispano-mourisco de corda seca com laçarias
Fig. - Azulejos hispano-mouriscos de aresta
Durante este mesmo período – finais do século XV – surgiu também em Sevilha outra técnica, designada por «aresta» (ou cuenca) que vem substituir a técnica de corda seca e que se prolonga pelo séc. XVI.
Nesta técnica também se recorria à utilização de um molde, de madeira ou de metal, mas com reentrâncias, que após compressão do barro cru, o mesmo ficava com saliências (arestas) que isolavam os esmaltes coloridos e evitavam a junção de cores durante a cozedura. Os azulejos Hispano-mourisco de aresta surgiram com motivos fitomórficos e de laçarias
Contudo, existem casos onde se verifica a presença das duas técnicas em simultâneo no mesmo azulejo pelo que se pode falar em «técnica mista».
Fig.- Azulejo hispano-mourisco de técnica mista (Sevilha, c. 1500)
Na decoração da superfície podemos,
ainda, considerar duas variantes (de origem medieval) usando engobes:
O embutido (embrechado): O desenho é feito por um sulco (embrechado). A depressão resultante é preenchida com engobe. Depois da cozedura o engobe, mais claro, contrasta com o vermelho do barro.
O esgrafitado (do italiano sgrafitto= arranhar, riscar): Em termos gerais é a técnica de decoração que consiste na gravação com estilete ou prego no corpo cerâmico dos motivos decorativos, retirando o vidrado e deixando aparecer a chacota.
No azulejo pode ser também efetuado cobrindo a superfície do azulejo com engobe riscando depois o desenho sobre ela deixando a descoberto o barro mais escuro. A tonalidade final do engobe dependia das características do vidrado (ex: sulfureto de cobre com o vidrado de chumbo –verde).
Motivos para a Proliferação da utilização do Azulejo:
•O azulejo, na sua origem, não estava destinado a existir por si, como obra de arte decorativa isolada, mas sempre em função da arquitetura e na sua dependência
•Trata-se de um material de fabrico fácil e relativamente barato, de aplicação simples e de grande efeito decorativo, adaptável a qualquer tipo de locais e muito resistente à passagem do tempo
•As aplicações do azulejo tornaram-se muito variadas tanto na arquitetura civil como religiosa: nas paredes, no teto, no pavimento, tanto no interior como no exterior (onde está mais sujeito ao desgaste do tempo e a variações de temperatura).
•Desde cedo se perceberam as vantagens da utilização do azulejo graças a alguns factores relacionados com as suas potencialidades técnicas e decorativas:
•Durabilidade •Versatilidade •Cintilação •Vibração lumínica •Colorido vibrante •Funcionalidade
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